Sunday, February 26, 2012

Ensaio sobre a surdez (porque sobre a cegueira seria cliché)

Desculpem. Desculpem lá se não gosto de brejeirices e afins que hoje em dia são utilizadas de forma completamente gratuita. As pessoas parecem ter ganho o mau hábito de considerar o que costumava ser "má educação" recursos recorrentes do seu discurso normal. O que é que mudou? Certamente não foi o significado dos termos...

Dantes dizia-se que era algo cultural no Norte (não que todas as práticas culturais sejam éticas ou correctas: tenho a certeza de que muitos, sem demora, me diriam numa frase recheada de asneiras que as touradas são isto e aquilo, ou que o apedrejamento das mulheres na arábia saudita também é "correctíssimo" - ah, e só para que conste, agora passou de apredejamento a enforcamento- e que quem concorda com este tipo de práticas são [*inserir todos os nomes ofensivos mas perfeitamente normais que conseguem arranjar*]). De qualquer forma, se os do Norte tinham a "desculpa" de ser cultural, qual é a NOSSA desculpa? É mesmo só porque sabe bem adaptar uma linguagem mais brejeira? É que, sinceramente, o que falta mesmo neste país é educação, a todos os níveis, e secalhar começar pelas pequenas coisas como esta não era má ideia. Digo eu. Mas quem sou eu, armada em pudicazinha não é?

Porque de facto, "eu uso asneiras mas sou uma pessoa extremamente diferenciada, poque se estiver a falar com um professor uso todos os termos correctos e intelectuais, e a linguagem mais rude é só entre amigos, assim para tornar tudo mais pessoal e familiar". I mean, REALLY? Isso é o quê, acharem que os vossos amigos não merecem tanto respeito como os professores? Não, claro que não. Nem eu cairia no risco de achar que algum de vocês pensava de tal forma. Para vocês é uma linguagem completamente normal, nada desrespeitosa, sendo mesmo um sinal de confiança. Pois gostava de saber se foram as vossas mães que vos ensinaram isso (algumas até não tenho dúvidas, mas eu dirijo este texto aos meus amigos, não a filhos de gente que não conheço de lado nenhum, porque ai cada um sabe de si... Infelizmente).

E depois argumentos como "ah, e tal, uma asneirinha bem empregada até dá valor a uma frase" - dá valor dá, e com isto se cria cada vez mais uma rotina em que tudo é permitido, criam-se os "novos valores", e depois ve-se miúdos de 13 anos a dizer asneiras para os professores (e não só) - porque não se esqueçam, se alguns de nós ainda temos noção do que se deve dizer à frente de certas pessoas, com o corrente uso de todos os termos possíveis e imagináveis, essa "noção", esse "bom senso" (o pouco que ainda há) vai-se perdendo, de forma a que só alguns (muitas vezes os mais velhos) realizam a falta de tudo que este tipo de linguagem representa. Agora pensem como será daqui a uns anos, em que estes miúdos mal criados (ou será que não?) serão os professores a ensinar os VOSSOS filhos. De facto, é bom que não tenham os mesmos problemas que eu, ao menos para vocês não será mais que a evolução natural das coisas.

E o mais engraçado? O mais engraçado é que nem sei porque ainda me dou ao trabalho de me queixar, já que me diz a minha experiência ser completamente escusado. Para a próxima farei um verdadeiro ensaio sobre a surdez - certamente estarei muito mais bem disposta.

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