Monday, December 27, 2010

O que te aconteceu
Eras tanto, eras tudo
E agora não és nada.
Como é possível desabar tudo assim?
Porque me aconteceu isto a mim?



...Será alguma piada que me passa ao lado,
Ou estarei simplesmente a endoidecer?
Não sei, não quero saber...
Oxalá não me custasse tanto a adormecer.





Monday, December 13, 2010

Perdida

Completamente à deriva na imensidão
Do tempo, do espaço, do ser.
Como me fui eu aqui perder?

Procuro desbravar caminhos para o ponto de partida
Que há muito deixei para trás,
Aquele local que tão bem conheci,
Onde tão alto sonhei, onde tão em casa me senti
E onde parte de mim agora jaz.

Sinto falta daquele sentimento de segurança,
Aquela fé indubitavelmente minha que,
Com o seu lado negro, conseguia mais longe chegar,
Ignorava limites e fronteiras, e sabia,
Sabia que o que queria não tardaria a alcançar.

Mas onde foste tu? Porque me deixaste aqui,
Sem alma, sem vontade, desconhecendo e estranhando este outro ser
Que agora se apodera da minha mente e age por mim...
Deixando-me apenas com este sentimento de nojo. Puro nojo daquilo em que me tornei.
Porque não sou eu, nunca fui e nunca seria...
Se o não fosse agora.

Hei-de te encontrar. Hei-de me encontrar.
Novamente.

Saturday, October 16, 2010

Serenidade

Dias e dias passados,
Perdida por caminhos hipotéticos da visão do ser
Como se de um assombro se tratasse
E na busca qual mendigo implorasse
Por um plano de viagem,
Um texto pontuado por fim
E para fim pôr;
Tal era o estado que já nem sentia dor.

Quiçá desdobrada em repentinas vozes
Pela pluralidade do discurso efémero,
Uma maré de fantasmas tudo tomou,
E arrastando destroços o barco afundou.

E na escuridão profunda que fingia ser luz
Surgiu o vazio que, curiosamente, seduz.

Monday, July 26, 2010

Sem título

Fruto da ingénua semente
Enquanto criança implantada,
Numa pura inocência instiga
Idelizar, planear, sonhar.

Poderá algum dia mero mortal
Alcançar o supremo infinito,
Quando tão elevada foi a fasquia
Que já há muito foi lançada?

Se tal é a ilusão,
Capaz de inigualável felicidade,
Muito não durará:
Será para breve a desilusão.

E então,
Como que se todo o sofrimento houvesse sido em vão,
Quebra de novo o silêncio profundo,
O bater de um coração.

Sunday, June 27, 2010

Cegueira

Uma conversa entre cegos
Toma lugar num mundo à parte,
Num local sem fronteiras,
Uma bolha fechada onde não existem barreiras.

Por cada palavra um raio de ilusão,
Por cada gesto uma esperança em vão,
Um resquício de vida numa angústia perdido
Procura o caminho, não quer ser esquecido.

E aquela angústia de saber mas não querer ver,
Aquela dor que docemente corrói e desgasta o ser,
Do cego nada tem a consumir:
O cego é cego e, mesmo que quisesse,
Não podia ver.

Saturday, June 5, 2010

Passado Distante

Olho para ti e relembro a alegria que um dia senti.
Parece ter sido uma outra vida essa
Em que rindo trocávamos olhares e pareceres
Faziamos bem mais que juntar palavras
E numa frase expressávamos bem mais que dizeres.

Hoje penso em tudo o que perdi,
Tudo o que podia ter sido mas não o é,
Tudo o que sendo eu sem o ser vivi.
Não, talvez não devesse ser diferente
E o que é seja o que deve ser.

Afinal, tudo o que foi parece tão simples,
Tão bonito e precioso,
Mas, qual poeta defunto relembrado,
Só assim o é
Por ser passado.

Monday, April 26, 2010

Analogia dos Ruídos

Com um estetoscópio numa mão
E noutra uma dose de ilusão
Começo eu a preparação
Para explorar o que diz o teu coração

Começa o exame
Sinto-me sob pressão
Tum-tum, tum-tum
Mas que grande confusão

1º ruído, 2º ruído
2º ruído, 1º ruído
Se há algo mal
Não sei não

"Bem, vamos lá medir a tensão."

Pesadelo

Que coisa é esta
Que quer de mim
Porque me assombra
E persegue assim?

Deixa-me em paz
Desaparece daqui
Porque fazes isto
Que te fiz eu a ti?

Queres que te ouça?
E ai vais parar?
Queres que saiba
Que algo te vai matar?

Que sentimento mais triste,
Sinto-me afundar,
Mas quem és tu?
Não consigo relembrar.

És o fantasma do futuro,
Isso não chega.
Choro por ti
Mas não consigo ver-te o rosto.

Algo que perdi?
Algo que vou perder?
Alguém ligado a mim?

Não percebo, não entendo
Porquê estas lágrimas?
Quem és?
Sinto que...

Oh meu Deus...
Desculpa ter esquecido de ti,
Desculpa só agora perceber
Tudo o que me estavas a tentar dizer.

E agora... É tarde demais?

Saturday, March 20, 2010

Acreditar

Forte a vontade que tenho
Que me leva por tudo o que faço,
Não há muitos como este meu empenho,
Que tantas vezes me leva ao cansaço.

Se de poder escolher padeço,
Fico indiferente e desfaleço,
Maldita razão que te fostes
Não me queres ver pensar.

Olho para mim no meu enleio,
Nada parece mais que um devaneio,
Só penso no que quero até que, por fim,
Me lembro do que é amar.

E é assim,
Gosto de acreditar que o farias por mim.

Thursday, March 18, 2010

"Beauty is in the eyes of those who see it"

Blossoming Almond Tree, Vincent Van Gogh
...
Beauty is in the eyes of those who see it.

Não está em qualquer coisa ou pessoa:
Está na maneira de olhar de cada um,
No sentimento despertado pela visão
Após breve momento de ilusão.

Saturday, March 6, 2010

Mergulhar

A saudade da brisa,
Do sol, do mar,
Do sabor da areia na ponta dos dedos

Sentir a evaporação de cada gota de água,
O calor acolhedor,
E depois, novamente,
Mergulhar

Sunday, February 28, 2010

Imperfeita

Desculpa,
Desculpa a imperfeição do ser,
A capacidade que me falta, talvez,
Para que um dia pudesse, quem sabe,
Aceitar justamente o pódio
Que insistes em me oferecer.

Desculpa a personalidade errante,
A teimosia constante, e a fúria degradante,
Todas as feições em mim cravadas
Por esta curta vida que vivi.

E desculpa,
Desculpa também ser tão feliz assim,
Tudo menos perfeita,
Tudo menos ideal,
E, no entanto,
Onde sempre quis.

E tu desculpas, sim,
Como não poderia deixar de ser,
Como que inexplicavelmente
E para acréscimo da minha afeição;
Serias incapaz de o não fazer,
Porque esse lugar onde estou
É o teu coração.

Friday, February 26, 2010

Felicidade de ilusão

Esta ansiedade que sinto
Vem do fundo do meu ser
É a dor de tudo querer
E de tudo não poder ter.

Se por momentos me satisfaço,
Vejo o quardo completo,
Logo reparo naquele pequeno borrão
Tão subtil que só agora me chama a atenção.

Não está certo, não o quero ali
Há que desaparecer
Não o posso mais ver.

Ganho uma nova missão
Obstinada, entrego-me a ela
Dizem-me que é impossível
Mas não aceito um não.

Depois da guerra
Vem a paz assim,
O borrão desapareceu,
A demanda chegou ao fim.

Olho para a minha obra
E sinto-me feliz,
Consegui o que queria
E agora ninguém me desdiz.

E é então,
Nesta felicidade de ilusão,
Que instintivamente detecto
Outro pequeno borrão...

Thursday, February 4, 2010

Divergências

Falar
Sem certeza do que se diz
Esperar
Sem saber se algo virá
Pensar
Sem possibilidade de o não fazer
Gostar
Sem reconhecer o sentimento
Caminhar
Sem vida nem destino
Sofrer
Sem lógica ou razão
Escrever...
Sem realmente o fazer