Wednesday, April 4, 2012

Lisboa

Lisboa, aquela cidade que amo.
Pelas suas ruas movimentadas,
O sentimento de estar em casa,
De pertencer a ti,
Cidade de recantos escuros e frios
Que me aquece a alma.
És alma, és canção, és fado,
És vida. Minha Lisboa.

Distância

Envolvida no teu abraço
Não quero estar em mais nenhum lugar;
Libertas-me do cansaço
És a razão de meu respirar.

Meu amor, se de ti me bastasse um pedaço...!
Feliz ficaria só por te poder falar.
Mas assim, meu coração viraria aço
Se a ti, por completo, não to pudesse dar.

Resta-me então, para meu embaraço,
Confessar que para sempre te quero amar,
Mas nem assim, por força do espaço,
Te posso agora beijar.

Sunday, February 26, 2012

Ensaio sobre a surdez (porque sobre a cegueira seria cliché)

Desculpem. Desculpem lá se não gosto de brejeirices e afins que hoje em dia são utilizadas de forma completamente gratuita. As pessoas parecem ter ganho o mau hábito de considerar o que costumava ser "má educação" recursos recorrentes do seu discurso normal. O que é que mudou? Certamente não foi o significado dos termos...

Dantes dizia-se que era algo cultural no Norte (não que todas as práticas culturais sejam éticas ou correctas: tenho a certeza de que muitos, sem demora, me diriam numa frase recheada de asneiras que as touradas são isto e aquilo, ou que o apedrejamento das mulheres na arábia saudita também é "correctíssimo" - ah, e só para que conste, agora passou de apredejamento a enforcamento- e que quem concorda com este tipo de práticas são [*inserir todos os nomes ofensivos mas perfeitamente normais que conseguem arranjar*]). De qualquer forma, se os do Norte tinham a "desculpa" de ser cultural, qual é a NOSSA desculpa? É mesmo só porque sabe bem adaptar uma linguagem mais brejeira? É que, sinceramente, o que falta mesmo neste país é educação, a todos os níveis, e secalhar começar pelas pequenas coisas como esta não era má ideia. Digo eu. Mas quem sou eu, armada em pudicazinha não é?

Porque de facto, "eu uso asneiras mas sou uma pessoa extremamente diferenciada, poque se estiver a falar com um professor uso todos os termos correctos e intelectuais, e a linguagem mais rude é só entre amigos, assim para tornar tudo mais pessoal e familiar". I mean, REALLY? Isso é o quê, acharem que os vossos amigos não merecem tanto respeito como os professores? Não, claro que não. Nem eu cairia no risco de achar que algum de vocês pensava de tal forma. Para vocês é uma linguagem completamente normal, nada desrespeitosa, sendo mesmo um sinal de confiança. Pois gostava de saber se foram as vossas mães que vos ensinaram isso (algumas até não tenho dúvidas, mas eu dirijo este texto aos meus amigos, não a filhos de gente que não conheço de lado nenhum, porque ai cada um sabe de si... Infelizmente).

E depois argumentos como "ah, e tal, uma asneirinha bem empregada até dá valor a uma frase" - dá valor dá, e com isto se cria cada vez mais uma rotina em que tudo é permitido, criam-se os "novos valores", e depois ve-se miúdos de 13 anos a dizer asneiras para os professores (e não só) - porque não se esqueçam, se alguns de nós ainda temos noção do que se deve dizer à frente de certas pessoas, com o corrente uso de todos os termos possíveis e imagináveis, essa "noção", esse "bom senso" (o pouco que ainda há) vai-se perdendo, de forma a que só alguns (muitas vezes os mais velhos) realizam a falta de tudo que este tipo de linguagem representa. Agora pensem como será daqui a uns anos, em que estes miúdos mal criados (ou será que não?) serão os professores a ensinar os VOSSOS filhos. De facto, é bom que não tenham os mesmos problemas que eu, ao menos para vocês não será mais que a evolução natural das coisas.

E o mais engraçado? O mais engraçado é que nem sei porque ainda me dou ao trabalho de me queixar, já que me diz a minha experiência ser completamente escusado. Para a próxima farei um verdadeiro ensaio sobre a surdez - certamente estarei muito mais bem disposta.

Monday, December 27, 2010

O que te aconteceu
Eras tanto, eras tudo
E agora não és nada.
Como é possível desabar tudo assim?
Porque me aconteceu isto a mim?



...Será alguma piada que me passa ao lado,
Ou estarei simplesmente a endoidecer?
Não sei, não quero saber...
Oxalá não me custasse tanto a adormecer.





Monday, December 13, 2010

Perdida

Completamente à deriva na imensidão
Do tempo, do espaço, do ser.
Como me fui eu aqui perder?

Procuro desbravar caminhos para o ponto de partida
Que há muito deixei para trás,
Aquele local que tão bem conheci,
Onde tão alto sonhei, onde tão em casa me senti
E onde parte de mim agora jaz.

Sinto falta daquele sentimento de segurança,
Aquela fé indubitavelmente minha que,
Com o seu lado negro, conseguia mais longe chegar,
Ignorava limites e fronteiras, e sabia,
Sabia que o que queria não tardaria a alcançar.

Mas onde foste tu? Porque me deixaste aqui,
Sem alma, sem vontade, desconhecendo e estranhando este outro ser
Que agora se apodera da minha mente e age por mim...
Deixando-me apenas com este sentimento de nojo. Puro nojo daquilo em que me tornei.
Porque não sou eu, nunca fui e nunca seria...
Se o não fosse agora.

Hei-de te encontrar. Hei-de me encontrar.
Novamente.

Saturday, October 16, 2010

Serenidade

Dias e dias passados,
Perdida por caminhos hipotéticos da visão do ser
Como se de um assombro se tratasse
E na busca qual mendigo implorasse
Por um plano de viagem,
Um texto pontuado por fim
E para fim pôr;
Tal era o estado que já nem sentia dor.

Quiçá desdobrada em repentinas vozes
Pela pluralidade do discurso efémero,
Uma maré de fantasmas tudo tomou,
E arrastando destroços o barco afundou.

E na escuridão profunda que fingia ser luz
Surgiu o vazio que, curiosamente, seduz.

Monday, July 26, 2010

Sem título

Fruto da ingénua semente
Enquanto criança implantada,
Numa pura inocência instiga
Idelizar, planear, sonhar.

Poderá algum dia mero mortal
Alcançar o supremo infinito,
Quando tão elevada foi a fasquia
Que já há muito foi lançada?

Se tal é a ilusão,
Capaz de inigualável felicidade,
Muito não durará:
Será para breve a desilusão.

E então,
Como que se todo o sofrimento houvesse sido em vão,
Quebra de novo o silêncio profundo,
O bater de um coração.