Friday, April 18, 2008

Relógio do tempo

O tempo é uma coisa engraçada. Quando mais depressa queremos que ele passe, mais devagar tal acontece, mas quando queremos disfrutar o momento, prolongá-lo, congelá-lo eternamente, o tempo foge a uma velocidade até então inimaginável e não volta mais. Não há nenhum relógio do tempo.
Quando penso no futuro, é-me inevitável recordar o passado. Ainda na semana passada eu queria ir à festa da presente semana, esta semana quero ir à festa da próxima... O tempo passa e eu mal dou por isso. Lembro-me de quando tinha três anos e entrei para o infantário. Aquele primeiro dia em que o meu Universo pessoal cresceu. Não conseguia pensar num futuro tão longínquo como os meus dezasseis anos, mas passei a imaginar todos os amigos que iria fazer, mesmo sem saber bem o que esperar daquele sitio novo e desconhecido. Estranhamente era feliz; penso nunca ter sido tão feliz. Para quê querer congelar os poucos momentos perfeitos quando tudo é tão inocente e real?
Mas agora? Agora não só me imagino num espaço de dez anos, como num espaço de vinte ou trinta, se necessário. O meu Universo expandiu-se de um modo imesurável nos últimos anos e fez-me tomar uma perspectiva diferente da vida. Isto aconteceu de tal modo que, de cada vez que começo um pensamento deste tipo é inevitável pensar na minha morte. É estranho, parece que ganhei um medo à não-existência, ao desconhecido, ao que vem depois de tal modo que não consigo travar o meu imaginário na sua viagem pelo tempo. No entanto o erro não é temer o futuro, é não viver o presente. O passado já lá vai, não há nada a fazer, só restam memórias. O presente, esse sim, pode ser vivido, e não deve ser passado a pensar no futuro -não de uma maneira compulsiva ou stressante. Logicamente que não podemos viver o hoje sem pensar minimamente no amanhã -afinal é o hoje que garante o amanhã; estamos a fazer a cama em que mais tarde nos deitaremos. Mas se vivemos o hoje sempre a pensar no amanhã, acabamos por nunca viver o hoje, assolados sempre pelo amanhã, amanhã, amanhã. E um dia não haverá mais amanhã, a vida findará e, se nesse momento pudessemos olhar para trás e contar os 'hojes' vividos, aqueles que tinhamos passado o 'ontem' a pensar sobre, perceberiamos que eram menos do que nos tinhamos apercebido.
A vida passa assim, num ápice. Ontem nascemos, hoje pensamos no amanhã, amanhã morremos.
Quando penso nisto apercebo-me que tenho de ir com calma. A festa da próxima semana? Calma lá, ainda tenho 7 dias inteirinhos para viver até lá. E se a visão desses dias não é tão emocionante como a visão da festa? Cabe-nos a nós mudar isso - não apenas a visão, que de pouco serve, mas o dia em si.
Por muito cliché que isto pareça, cada um faz o eu próprio destino e deve viver-se cada dia, cada momento como se fosse o último, porque eventualmente, um dia, será mesmo. Hoje, amanhã, talvez daqui a oitenta anos... O que importa? Hoje estou aqui, a escrever os meus pensamentos, e garanto que vou fazer os possíveis para não meditar muito mais àcerca deste assunto -não penses demais, vive!

O tempo não pára: o melhor relógio que se pode arranjar é aquele que não anda nem atrasado nem adiantado, mas sim a horas, e cujo ponteiro dos segundos leve o seu tempo, deslizando segundo a segundo, vagarosamente, até que a volta esteja completa e uma nova comece.

Carminho

2 comments:

Diogo Pereira said...

Não sabes o que é o tempo! Eu ensino-te no meu próximo ensaio escrito! 917358311 diz-me algo
ass. pensarnorte

Anonymous said...

Ah sim, este tema que ambos conhecemos tão bem, e que nos faz sofrer tanto! O tempo é realmente misterioso, como era bom poder controlá-lo, acelerá-lo nos piores momentos e abrandá-lo nos momentos de maior alegria (como quando nos encontrá-mos nas férias da Páscoa, duas horas a conversar que pareceram meia hora, ou como as nossas conversas por telefone, que se estendem por horas e horas...). A verdade é que necessitamos de viver no presente para podermos usufruir das nossas vidas, mas o passado tem influência no presente, e o presente tem influência no futuro... O "Carpe Diem" tem a sua ponta de verdade e justiça, mas se levado ao exagero pode causar muitos danos... Não devemos viver cada dia como se fosse o último, mas também não nos devemos preocupar demasiado com o futuro ou recordar constantemente o passado... O equilíbrio é a solução, e é também o caminho certo a seguir.

Pure Poetry